Tuesday, February 07, 2006

Tributo a Bocage

Foi, sem dúvida alguma, um dos génios da poesia portuguesa, embora haja muito boa gente que não partilhe desta minha modesta opinião. Talvez porque classifiquem este grande poeta lusitano como um homem mundano e ordinário, autor de alguns dos mais "picantes" poemas da literatura portuguesa, intérprete de uma escrita imprópria para as mentes mais sensíveis". Bom, mas isso é lá com eles, gostos não se discutem. Pois bem, eu sou um confesso admirador deste ilustre setubalense e apesar de não ser um grande afixionado televisivo é com muita satisfação que assisto todas as 6ª feiras à noite à série que a RTP recentemente colocou no seu horário nobre e que relata a vida deste poeta, uma espécie de tributo, por assim dizer. É óbvio que a maior parte da "história" da série é pura ficção, baseada em boatos (que tanto podem ser verdade como mentiras, ninguém sabe), ou mesmo em anedotas de que Bocage é alvo, mas que aquilo tem uma certa piada, lá isso tem. E as personagens parecem que são todas escolhidas a dedo, e aqui destaco a personagem do padre Agostinho, ou também conhecido por padre "lagosta", personagem esta interpretada pelo chanfrado Manuel João Viera. Um padre que convive com Bocage no meio da miséria, da merda, nas tascas de Lisboa, ou nas casas de putas desta cidade. Bom, de qualquer maneira parabéns à RTP por se ter lembrado de exibir uma série deste calibre, e ao mesmo tempo homenagear um dos grandes vultos da poesia lusitana. Em seguida passo a transcrever um dos muitos sonetos do Manuel Maria que fazem parte do seu livro de sonetos eróticos (livro este que há pouco retirei novamente da prateleira para voltar a passar as pestanas). Aqui vai:

SONETO DE TODAS AS PUTAS

Não lamentes, oh Nise, o teu estado;
Puta tem sido muita gente boa;
Putíssimas fidalgas tem Lisboa,
Milhões de vezes putas têm reinado:

Dido foi puta, e puta d'um soldado;
Cleópatra por puta alcança a c'roa;
Tu, Lucrécia, com toda a tua proa,
O teu cono não passa por honrado:

Essa da Rússia imperatriz famosa,
Que inda há pouco morreu (diz a Gazeta)
Entre mil porras expirou vaidosa:

Todas no mundo dão a sua greta:
Não fiques pois, oh Nise, duvidosa
Que isso de virgo e honra é tudo peta.

(Palavras para quê? É um artista português...)

5 Comments:

Blogger susana said...

Apesar da linguagem que ele usa chocar um bocado, ele tem toda a razão na sátira que fez!!Bem diz o ditado " A fugir é das santas"!!Quanto mais santas se fazem,ás vezes piores são!!!

10:22 AM  
Blogger Zé do Telhado said...

Ora aí está uma grande verdade, sim senhora. Como diz o velho ditado popular: "Quem vê caras não vê corações". De facto, como eu já tinha dito no texto, o Bocage foi um poeta que feriu as "mentes sensíveis" de muita gente com a sua escrita, mas não se acanhava de dizer estas verdades carnais, doe-se a quem doer. Descobriu a careca a muitas "santas" (como tu dizes) daquela época. E se há coisa que se mantém daquela época em relação aos dias de hoje são as "santinhas" que existem por esse mundo fora, e que se encontram onde muitas vezes menos esperamos.

3:15 AM  
Blogger ANTONIO MELÃO said...

Não admira que o tenham censurado a torto e a direito...
Eu gosto da maneira como ele escreve e ainda devo ter um livro de poesia (editado logo depois do 25 de Abril) sem cortes.
Grande Bocage!
CM

9:21 AM  
Blogger D. said...

confesso que nunc ali bocage, mas por várias vezes já tive tentada a comprar um livro dele... certamente que os poemas que vou lendo por aqui, me vão aguçar o apetite e quiça, daqui a uns tempos, lerei bocage... pelo que sei ele é daqueles escritores sem papas na lingua, mas que sabem o que escrevem... e escrevem muito bem..

3:34 PM  
Blogger Zé do Telhado said...

Compra Daniela, e verás que não te arrependerás. E olha que este livro dos sonetos eróticos até nem está muito caro, acho mesmo que é daqueles livros cujo preço desce de ano para ano, ainda um destes dias o vi numa livraria e estava bem mais barato do que há cerca de 2 ou 3 anos atrás quando o comprei. Acho que fazes um bom investimento ao comprares
esta obra prima do Bocage.

6:36 AM  

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